CARTA OBRA BORDA
Texto Curatorial
O coletivo Carta/ObraBorda foi criado com a intenção de resgatar o conceito da Mail Art/Arte–Postal/Arte,mas com vista à contemporaneidade e com procedimento diferente. O processo do transporte foi o mesmo, o Correio, mas o conteúdo distinto. No lugar de cartas, tivemos bordados. A concepção do Carta/ObraBorda nasceu como resultado de outro projeto também concebido a partir da Arte postal, o Carta/Obra.
O nosso desempenho do ato de ornar superfícies de vários tipos de suporte, não somente o tradicional tecido, provou uma ramificação de identidades culturais já que estivemos agregando uma técnica milenar com o fazer contemporâneo. Somos um grupo de artistas heterogêneos, de vários lugares, de estados brasileiros, e do México, Guatemala, Argentina, Uruguai, França, Espanha e Itália. Assim sendo, acreditamos que estamos apresentando bordados reproduzindo o seu meio tanto físico como mental.
Suyan de Mattos
Curadoria e Coordenadora Projeto
A história do bordado se mistura com a costura. Ela surge com a necessidade do homem em se proteger das ações climáticas com o uso de peles de animais. Ossos, dentes, espinhas… tudo se transformava em agulhas.
Da sobrevivência para o ornamento, o bordado se tornou inclusive moeda de troca. Já identificou hierarquias de Impérios. Já contou histórias de guerra e casos de amor. Houve tempos em algumas civilizações que o bordado era de domínio apenas masculino. Outrora, distinguia-se o que era feitio do homem e o que era da mulher.
Na Alta Costura, era uma das únicas atividades que poderiam ser feitas fora das Casas devido a riqueza de detalhes e precisão da técnica para que nada, absolutamente nada maculasse o trabalho.
Em tempos modernos, o bordado passou a ser uma ação praticamente feminina e inclusive menor. Ainda mais, começou a pular gerações ou até ser esquecida. Até pouco tempo, essa arte manual ficou datada: pessoas novas nem saberiam passar uma simples linha na agulha.
Felizmente mudamos.
A velocidade dos tempos atuais pediu pausa.
As habilidades manuais passaram a suprir demandas contemporâneas de busca interior e de estética também.
De todos os tipos que foram resgatados, quero salientar o Sashiko. Este que em tempos de guerra no Japão foi a alternativa para remendar roupas que eram escassas naquele momento, e que nas mãos de habilidosas Gueixas, além de preencher vazios, dava nova vida, um outro valor. O CartaObra Borda assemelha-se a esse bordado japonês.
Através da troca de trabalhos entre os artistas, a distância entre cidades, estados e países foram preenchidas. Uma linha imaginária ornamentou esse intercâmbio cultural. Para alguns, a agulha foi uma ferramenta nova, para outros foi resgate de memórias. Para todos foi Arte.
Mag Campos
Curadoria e Coordenação Exposição